Dia#15 | Caminho Francês

Dia#15
Distância: 33,4km
Tempo de caminhada: 7 horas
Clima: Sol
Temperatura: Mín: 10° / Máx: 21°
Saída: Carrión de Los Condes
Chegada: San Nicolás del Real Camino
Data: 21/09/2017
Palavra do Dia: Tédio

Dormi pronta. Acordei às 5:00. Coloquei o tênis. Arrumei a mochila. Organizei minha comida do dia de forma que ficasse fácil de pegar na mochila. Não queria parar até completar os 17km iniciais. Decidi que ia andar o máximo que pudesse nas primeiras horas da manhã. Ainda estava escuro quando saí. Caminhei ao lado de algumas pessoas. Hoje eu queria ficar em silêncio. Ouvir meu coração. Meus passos. Olhei para o céu. Beleza indescritível. MUITO estrelado. Vi uma estrela cadente. Fiz um pedido. Talvez o mesmo que havia feito outro dia. Sou persistente. Não desisto nunca. Segui caminhando. Veio o nascer do sol. Lindo como sempre. É só olhar pra trás que lá está aquela bola de fogo que chega a cegar os olhos. O escuro vai ganhando luz. A noite vai dando lugar para o dia. E assim é o ciclo da vida. Tudo está sempre em constante transformação. Nada é permanente. Essa é a inconstância da vida. Tudo muda o tempo todo. Momento pra reflexão. Amanheceu. Bateu fome. Peguei um croissant que tava na mochila e comi enquanto caminhava. O sol chegou lá no alto. Esquentou. Tirei os casacos. Me senti mais leve. Procurei cruzes no céu. Encontrei algumas. Pensei em tudo que queria deixar para trás. Coloquei um “X”. Hora de desapegar. Esquecer. Deixar ir. Feito. Continuei caminhando. Coloquei o ipod. Música me anima. Me dá força, ânimo e energia. Hoje eu tava precisando. Andei 17km interruptamente. Não parei. Foi a caminhada mais longa sem descanso até agora. O silêncio me acompanhou. Se tornou um grande amigo por aqui. Finalmente avistei o vilarejo esperado. Sorri. Parei. Fui no banheiro. Fiz um lanche com o que tinha na mochila. Croissant com queijo. Comi. Descansei 20 minutos. Continuei. Vi um coração no chão feito de pedras. Lembrei mais uma vez da frase: “O Amor é a Resposta”. Sorri. Segui. Me dei conta de que alcancei a marca de 400km. Já havia andando metade do caminho. Antes eu tinha pressa. Agora meu coração queria ir devagar. Não quero me despedir do Caminho. Mas meu corpo me pede pra andar cada vez mais. Estou caminhando muito mais rápido do que imaginava. O objetivo me empurra pra frente, mas a emoção me faz querer voltar lá pra trás. Bateu saudade do início. Quero chegar, mas não quero que acabe o que estou vivendo aqui. Estranha sensação. Lembrei de uma frase que meu irmão falou pra mim: “Algumas vezes, entender o tempo do Caminho é mais difícil do que a caminhada.” Refleti. Passei por um pequeno vilarejo meio deserto. Entrei em um albergue para ir no banheiro e abastecer minha garrafa de água. Vi uma placa dizendo: “Às vezes, é preciso perder-se para encontrar-se.” Gostei disso. Quantas vezes na vida me senti perdida e de repente, uma nova porta se abriu? Aquela que talvez jamais se abriria se tudo tivesse dado “certo”. Novo aprendizado. Voltei a caminhar. Andei. Andei. Andei. O destino parecia não chegar nunca. Quando eu via uma curva lá na frente, sentia esperança de que me levaria a algum lugar. Quando chegava lá, avistava mais uma reta que parecia infinita e continuava caminhar. O dia estava muito quente. Eu já estava cansada. Não fisicamente. Mas mentalmente. Entendi que quando não temos desafios pra superar, a vida pode ficar monótona. Às vezes, o caminho mais “fácil” é o mais “difícil.” Prefiro a vida com mais emoção e superação. Depois de mais alguns quilômetros, finalmente cheguei em um pequeno vilarejo. Não sabia se ficava ou continuava. Bateu um sono repentino. Me senti exausta. Decidi ficar. Fiz check-in. Peguei minha cama. Apaguei por 2 horas. Foi a primeira vez que dormi de tarde. Finalmente aderi a famosa “siesta” espanhola. Hoje a paisagem foi igual por quase 30km. Senti tédio. Era uma reta infinita. Paisagem plana. Sem muitas árvores. Sem sombra Uma imensidão de “nada”. Bateu até um vazio. Não vi ninguém. Só um amigo que caminhava comigo. Fomos em silêncio. Às vezes, a vida fica assim mesmo. Sem graça. Nos sentimos sozinhos. Sem emoção. Sem novidades. Faz parte. Acordei renovada e com fome. Sentei em um banco da praça e comi um sanduíche que tinha na mochila. Conversei com um amigo. Escureceu. Senti frio. Voltei pro albergue. Tomei banho. Escovei os dentes. Não lavei roupa. Deitei. Agradeci. Dormi.

Aprendizado do dia: Às vezes, o caminho mais “fácil” é amigo do tédio.

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